Tem dias que só de abrir meu e-mail eu sinto uma coisa gelada me subir e eu preciso de uns cinco minuitinhos no banheiro para me organizar. Tem dias, que o discurso de um professor me faz com que eu me sinta a aluna mais atrasada e preguiçosa da sala. Tem dias que eu me sinto péssima, porque mal consigo conviver com meus pais ou conversar com meu namorado, só porque tudo é muito corrido e desengonçado. Tem dias que eu tenho raiva daquelas reportagens bacaninhas de meninas descoladas que largam tudo porque resolvem abrir uma escola de yoga vegana em budapeste. Tem dias que eu começo a minha manhã comendo direito e fazendo exercício, mas às três da tarde eu já estou tão ansiosa que tomei 6 xícaras de café, e eu sei que não é algo do momento, mas que eu realmente sou assim: a pessoa de muitas xícaras e um coração acelerado que só quer mostrar, desde 1994 que está aqui, e que pode não saber nada de química ou de geologia, ou de direito administrativo, mas que gostaria de aprender, se alguém tiver a paciencia de ensinar. Eu só queria mostrar que eu posso não saber nada de química ou de geologia ou de direito administrativo, mas eu sei fazer um brigadeiro incrível, tenho um ótimo cafuné e sei contar histórias de deuses gregos e de pintores da Belle Epoque muito bem.
Eu fico tão esbaforida que às vezes, enquanto desembaraço essa cabeleira meio coxa e meio hippie que acabo me lembrando da bisa lourdes e penso que quando ela tinha minha idade, já tinha filha e casa pra cuidar, além de fazer o seu próprio pão, não por moda da época, mas porque super mercados e padocas vinte e quatro horas ainda não eram uma realidade. E eu penso: nada é melhor nem pior, só é diferente, e eu tenho muita sorte. Porque eu gosto de ter essa liberdade de tomar uma cerveja com minhas amigas, de dormir na casa do meu namorado e de ver desenhos idiotas com meu irmão. Eu tenho essa liberdade de hoje achar que meu negócio é centro espírita mas amanhã pode ser aula de cerâmica.
Sempre me dizem como eu sou nova. E mesmo que eu não deva me comparar, aos 22, minha avó era mãe de família e minha mãe estava formada. As avós que oferecem bolos quentes e tem coques brancos me parecem tão distantes como aquelas que não são avós, mas bebem deliciosos drinks em cruzeiros além mar. É que tudo parece tao distante e tao perto, e fico me perguntando quando sera o dia em que minhas maos terao manchas e eu saberei dar um bom conselho. Porque eu fico pensando, será que essa vida ensina alguma coisa pra além das descoladezas do momento?
Você não deveria reclamar. Hoje seus amigos todos tem depressao porque são muito mimados, e há trinta anos os amigos de alguém mais velhoestavam morrendo de aids ou de qualquer doença aleatórias porque era esse o preço a se pagar para estarem vivendo algum grande momento ou por serem o que eram em algum momento. Minha bisa hoje usa batom vermelho para receber as visitas e tem um bule sempre quente, e minha avó borda em um quarto de costura ao mesmo tempo que tenta aprender a usar os aplicativos de seu celular. E é tudo tão rápido e tão bonito.
Em 2015 a gente comprou uma plantinha e plantou e cuidou dela com carinho, mas ela morreu mesmo assim. Em 2015 meu cachorro era animado e todos os rumos e vontades pareciam tão diferentes. E aí, tudo acaba, mas fica. Que nem cheiro de lenha queimada depois de fogueira.
Eu já respiro, porque tudo é tempo.
E a única coisa que cabe a ele é justamente